sábado, 5 de março de 2016

ESPELEOTURISMO NA AMAZÔNIA

Entrevista com Rodrigo Motta, diretor de Turismo de Itaituba - PA

Carvena Paraíso - A maior caverna da Amazônia

Você já ouviu falar em espeleoturismo? Sabe do que se trata? E na Amazônia, é possível encontrar atividades de espeleoturismo? A reposta para esta última pergunta é sim! Sim, nós temos cavernas! E em grande quantidade, com pinturas rupestres, fósseis e tudo mais, porém pouco conhecidas. O Estado do pará é o segundo no ranking nacional de cadastramento de cavidades e na região o maior responsável por este resultado é o administrador Rodrigo Motta, o Indiana Jones da Amazônia.
Rodrigo Motta é natural do Rio Grande do Sul, mudou-se para o Pará em 1991 e atualmente ocupa o cargo de Diretor de Turismo do município de Itaituba, onde casou e teve dois filhos.
Graduado em Administração de Empresas e Pós-Graduado em Gestão e Educação Ambiental, Rodrigo Mota coleciona algumas experiências profissionais. Trabalhou no Banco Itaú, na Serabi Mineração com a função de Supervisor Administrativo e  na Prefeitura de Itaituba, onde exerceu as funções de Assistente Administrativo, Diretor de Movimentação de Valores, Secretário de Fazenda e atualmente de Diretor de Turismo.
A fascinação por esportes e por conhecer belezas naturais influenciou na indicação para assumir o cargo de Diretor de Turismo de Itaituba, função que exerce com profissionalismo e dedicação.
E por falar em esportes, Rodrigo já foi atleta profissional, jogou futebol na segunda divisão do campeonato gaúcho e vôlei. Atualmente prática Mountain Bike e já percorreu por duas vezes o trajeto Santarém/Itaituba de bicicleta e se arrisca também na prática do Montanhismo, tendo subido as 11 maiores montanhas do Brasil, tais como o Pico da Neblina - AM, Pico 31 de Março - AM, Pico da Bandeira - MG, Cristal - MG, Calçado - MG, Agulhas Negras - RJ, Pedra do Sino – RJ, Morro do Couto – RJ, Pedra do Altar – RJ, Pedra da Mina – SP e o Monte Roraima – RR.

Atualmente seu foco maior está no cadastramento das cavernas da região, que já conta com 215 cavidades registradas.
Confira abaixo a entrevista concedida ao blog.

Renata Paulo: Quais são os principais atrativos turísticos de Itaituba?

Rodrigo Motta: O Município de Itaituba destaca-se pela diversidade de belezas naturais, com ênfase para o Parque Nacional da Amazônia. O parque possui trilhas autoguiadas, é ideal para a observação de pássaros, além de possuir um mirante com vista magnífica para as corredeiras para o rio Tapajós. A trilha da Capelinha, também dentro dos limites do parque, é uma aventura religiosa por onde os peregrinos caminham por 42 km ida e volta.
Ganham destaque a Fonte Azul, belíssimo lago de cor azulada, a Maloquinha, Hotel fazenda situado às margens do rio Tapajós, as Comunidades de Vila Rayol e de São Luiz, por onde passam as corredeiras do Rio Tapajós, a Campinarana de Campo dos Perdidos, local semelhante à caatinga, com espécies endêmicas, que se estende por uma área de mais de 1000 hectares, a Comunidade de Santarenzinho, onde são encontrados artefatos indígenas, provavelmente dos índios Tapajó, além de várias corredeiras, cachoeiras e praias. 
Cabe esclarecer que a Diretoria de Turismo trabalha com a divulgação de atrativos regionais, visto que o deslocamento para tais locais se faz pelo Aeroporto de Itaituba. Desta forma, o Tabuleiro de Monte Cristo, local de desova de tartarugas, o distrito de Fordlândia, mega-projeto de plantio de seringueiras realizado pelo empresário Henry Ford, a Caverna Paraíso, maior caverna da Amazônia, várias cachoeiras e cavernas (muitas com pinturas e gravuras rupestres), fazem parte da divulgação por este município em virtude de sua proximidade com o Município de Itaituba e por sua importância turística, histórica e cultural.


RP: Sabemos que promover o desenvolvimento turístico de uma cidade do interior da Amazônia é um grande desafio. Qual a estratégia adotada pelo município para desenvolver o turismo em Itaituba?
RM: Após realizar a identificação e incorporação dos novos atrativos a oferta turística do munípio, inicialmente o objetivo foi levar ao conhecimento da sociedade itaitubense através da realização de passeios turísticos e palestras realizadas nas escolas do Município. Compartilhamos da ideia de que o morador local deve primeiramente conhecer os atrativos naturais da região, para aí então, atrair turistas de outras localidades.
Como estratégia foram elaborados o Mapa Turístico, folders, além da divulgação em revistas e jornais e na internet. 
Através da TV Liberal conseguimos emplacar várias reportagens a nível estadual e algumas veiculadas na Globo News.
Sou consciente que há muito o que se fazer, mas o nosso propósito está sendo alcançado, sendo consolidado pelas ações do Fórum Regional e do Governo do Estado, que visam fortalecer o turismo regional de turismo, e dos quais participamos ativamente.

Agora, vamos tratar de espeleoturismo...
Caverna localizada no município de Rurópolis - PA


RP: Na sua opinião o que é espeleoturismo?

RM: É o turismo realizado nas cavidades naturais, ou seja, nas cavernas.


RP: Quais são as modalidades existentes de espeleoturismo?

RM: O espeleoturismo possui três modalidades, as realizadas por grupos de espeleologia, onde se alcançam as profundezas das cavidades através da exploração, a prática da atividade turística em cavernas adaptadas à visitação, com passarelas, corrimões, escadas e iluminação e a modalidade religiosa, onde a cavidade é transformada em um templo.

RP: Como você despertou o interesse pela exploração de cavernas?
RM: Sou amante dos esportes e das atividades ligadas à natureza e certo dia, pesquisando na internet deparei-me com uma reportagem sobre a Caverna Paraíso, maior caverna de exploração paraense, publicada pelo Grupo Redespeleo de São Paulo. Na mesma semana, juntamente com meu filho Matheus e o amigo Antoniel parti em direção à caverna com as informações extraídas do site.
Após a visitação e encantado com tudo que havia visto, comecei a pesquisar e conhecer mais cavernas na região, o que levou a me associar na SBE – Sociedade Brasileira de Espeleologia e a começar a cadastrar as naturais existentes na região oeste do Pará.

RP: Qual a sua opinião sobre o potencial da região do Tapajós para a prática do espeleoturismo?
RM: Fantástico! Na região oeste existem muitas montanhas e paredões rochosos propícios ao desenvolvimento de cavidades, prova do êxito das nossas explorações, descobertas e cadastramento de cavernas. O município de Rurópolis é um verdadeiro paraíso de cavidades naturais, muitas delas com pinturas e gravuras rupestres. No ranking de cavidades por município, ocupa hoje a 5ª posição, com 152 cavernas cadastradas.
Caverna localizada no município de Rurópolis - PA
RP: Já existem roteiros turísticos formatados especificamente para a exploração de cavernas na região? Se sim, quem comercializa?
RM: Não existem roteiros turísticos formatados com essa finalidade, até por que existem muitos riscos e os guias devem ser profundos conhecedores das práticas espeleológicas, dos itens de segurança, bem como, especificamente da cavidade que se vai adentrar.
Na região existem dois grupos de espeleologia, o Brucutú de Uruará e o GEES – Grupo Espeleológico Erismar Silva, que é o grupo ao qual pertenço, de Itaituba.
Pela prática e conhecimento, os integrantes são as pessoas indicadas para o acompanhamento nas cavernas da região.

RP: Já foram catalogadas quantas cavernas na região? Em quais municípios? 
RM: No momento temos 215 cavidades cadastradas na SBE, assim distribuídas:
Aveiro – 15
Itaituba – 23
Placas - 06
Rurópolis – 152
Santarém – 13
Uruará – 06
Cabe ressaltar que o estado do Pará é o segundo maior estado em quantidade de cavernas com 797 cavidades cadastradas, superado somente por Minas Gerais que possui 1.954 cavidades.
No Ranking de munícipios São Geraldo do Araguaia com 471 cavidades ocupa a 1ª e Rurópolis ocupa a 5ª posição, ambas no Pará.

RP:  Como é o processo de prospecção das cavernas?
RM:  O processo utilizado pelo GEES é o de exploração, descobrimento e cadastramento de cavidades. Se dá a partir de informação dos moradores locais e de incursões aos paredões rochosos existentes na região. Essas descobertas tem atraído dezenas de pesquisadores tendo em vista a riqueza de vida subterrânea e de achados arqueológicos nessas cavidades.

RP: Alguma das cavernas catalogadas possui algum tipo de infraestrutura que permita a visitação turística?
RM: Nenhuma cavidade da região possui infraestrutura turística, até por que necessitam de estudos de impacto ambiental e consequente autorização para que sejam dotados de tal infraestrutura.
Particularmente essa forma selvagem e natural em que as cavernas se encontram me atrai muito mais, mas é lógico que são muito mais perigosas e carecem de uma atenção redobrada com a segurança.

RP: Quais são os equipamentos necessários para a exploração de cavernas? E quais os cuidados necessários? 
RM: O ideal é usar calças e camisas de mangas longas que favoreçam a locomoção (visto que serão transpostos vários obstáculos), luvas, perneiras para a proteção contra serpentes, botas, máscaras de proteção, capacete e lanternas (individual), material para rapel quando for o caso. Em alguns pontos, onde é preciso rastejar, sugere-se o uso de joelheiras. Importante também levar água, frutas, biscoitos ou barras de cereais. É imprescindível sempre avisar a alguém onde se pretende ir, qual cavidade ou local, e qual horário estimado de retorno, para que em caso de demora o seu grupo possa ser localizado com facilidade. As cavidades localizam-se em áreas de pastagem ou de floresta e como em todo o local natural, é importante que medidas de segurança sejam tomadas contra a picada de insetos ou serpentes, proteção dos raios solares e chuvas, quedas, torções de tornozelo ou joelho. Cabe salientar que apesar de todos os perigos expostos, nesses seis anos de práticas espeleológicas, com o acompanhamento de vários grupos, nunca tivemos nenhum acidente.

RP: Recentemente você realizou uma expedição em Santarém, pela praia, mas precisamente entre as praias de Ponta de Pedras e Alter do Chão. Compartilhe as descobertas ao longo desse caminho.
RM: Nas viagens de lancha que fiz no ano passado, no trecho Itaituba/Santarém, observava que nas imediações da Ponta do Cururú existiam pequenas cavidades.
Com base nessa ideia, no dia primeiro de janeiro deste ano, acompanhado de meus filhos Matheus e Fernanda, saímos de Alter do Chão e caminhamos até tais locais onde pude comprovar a existência destes abrigos.
Diante deste fato, convidei o estudante de Biologia da FIT, Makyson Barros, a fazer o trajeto Ponta de Pedras/"Alter"com o objetivo de marcar as coordenadas destes abrigos, bem como identificar em cada um deles a fauna existente, tamanho estimado, litologia (tipo de rocha) e outros detalhes importantes para o cadastramento das cavidades.
Neste trajeto foram encontrados e cadastrados 09 (nove) abrigos, todos com nomes regionais, por exemplo: Abrigo Ponta do Cururú, Abrigo Santarém, Abrigo Alter do Chão.
Vi como fator positivo a limpeza da praia por grande parte deste percurso e a grande quantidade de fauna encontrada, dentre elas aves, bandos de quatis e pegadas de onça na praia.
Preocupa-me o fato da abertura de estradas que dão acesso à veículos entre essas duas praias (Ponta de Pedras e Alter). A visitação de forma desordenada pode acabar com essa riqueza natural.
Soube da existência de um grupo de pessoas que se organiza para limpar a praia no trecho Santarém/Alter do Chão e aproveito para parabenizá-los pela iniciativa, que também leva à conscientização ambiental da população em geral.
Praia de Ponta de Pedras, Santarém - PA
Cavidade encontrada no município de Santarém - PA, no trecho Ponta de Pedras/Alter do Chão

Cavidade encontrada no município de Santarém - PA, no trecho Ponta de Pedras/Alter do Chão

Cavidade encontrada no município de Santarém - PA, no trecho Ponta de Pedras/Alter do Chão

RP: Na sua opinião, o que falta para estruturar esse segmento turístico na região?
RM: Falo com certo melindre deste segmento turístico em virtude da complexidade e da fragilidade destes ambientes. No momento não vejo como viável essa exploração turística sem que tenhamos guias especializados para acompanhar os turistas.
Cito o exemplo das cavidades de Rurópolis onde a grande maioria está intocável, mas algumas, situadas próximas à cidade estão tomadas pelo lixo e com várias pichações.